PANORAMA SEXUAL: HISTÓRICO E AGENDA
A Sexualidade tem a
idade do próprio homem, embora suas concepções possam variar de acordo com a
sociedade, a história e o grupo social.
Por Jehmy
Katianne Walendorff e Thiago de Almeida
Este
dossiê investiga os fundamentos e o contexto histórico do discurso
contemporâneo no que concerne a sexualidade. A abordagem do tema sexualidade
nas escolas é, em geral, muito difícil e complexa. Entretanto, sabe-se que o
objetivo da educação sexual na escola incide em colocar educadores com um
preparo adequado e com os objetivos de desempenhar de forma significativa e
dinâmica sua função, ajudar os jovens a superar dúvidas, aflições e
consternações. O dossiê pretende relatar, ainda que brevemente e com o objetivo
de historicizar, a difusão social e cultural da sexualidade e analisar a visão
de mundo que os autores têm nos dias de hoje.
COISA
DE CRIANÇA
Segundo
Foucault (1990), a sexualidade tem a idade do próprio homem, embora as
concepções de sexualidade possam variar de acordo com a sociedade, a história,
o grupo social e as diversas ciências humanas que se relacionam ao ramo que a
estuda. Sexualidade é um conjunto de processos inter-relacionados que permeiam
toda a existência humana e estão presentes em todas as fases da vida, e interpõem
a forma como cada um lida com a afetividade, com sua capacidade de entrega, com
a comunicação interpessoal e a maneira como cada pessoa lida consigo mesmo e
com o outro.
A
partir dessa perspectiva, pode-se perceber que a sexualidade é prazer que vai
para além do ato sexual, confunde-se com o próprio prazer de viver e com a
qualidade que cada um imprime ou não á sua vida (Foucault, 1982). E isto esta
de acordo com o que Guimarães nos coloca quando afirma que o “homem foi
elaborando, histórica e culturalmente, um conjunto de posturas em torno do
sexo, que fez com que este transcendesse o próprio sexo. Surgiram tantas
exigências, regras, cerimônias, interdições e permissões que tornaram a
atividade sexual um tabu” (Guimarães, 1995, p. 23).
A Sexualidade não é atributo ou privilégio dos adultos, como se pensava em outros tempos.
Makaaroun,
Souza e Cruz (1991) ressaltaram que tudo que se refere a sexo é cercado de
mistério, incompreensão e tabus diretos. Tabus e preconceitos impedem o
individuo de até mesmo buscar aprender. Sexo e sexualidade comumente são
tomados como sinônimos embora, como vimos, seja consenso entre muitos autores
que o sexo e sexualidade são conceitos diferentes (Blackburn, 2002; Chaui,
1995; Guimarães, 1995; Maia, 2001). Relações sexuais, diferenças genitais entre
o sexo masculino e feminino e práticas sexuais diversas parecem enfatizar o que
entendemos por sexo.
TABUS
SECULARES
A
sexualidade ocidental foi influenciada preponderadamente por uma concepção
religiosa e médico higienista do século 19, ambas ultrapassadas, carregadas de
tabus que afetam a maneira de se encarar a sexualidade, e o primeiro deles
refere-se ao “pecado” de Adão e Eva, a partir o qual tudo o que diz respeito ao
relacionamento sexual está relacionado a um sentimento “de vergonha”. O
segundo, que as excreções do corpo são sujas e/ou pútridas, principalmente pelo
fato de o sistema urológico, sobretudo para a mulher, estar próximo
anatomicamente ao sistema genital.
Até
hoje vigora um tabu psicológico que pesa sobre a iniciativa sexual das
mulheres, por exemplo; tem muito a ver com o papel de subordinação que a
sociedade estabelece para o sexo feminino, e sequelas de 6.000 anos de
patriarcalismo.
Outro
mito bastante comum é o da masturbação. Este é um comportamento absolutamente
normal e pode estar presente em qualquer idade. No entanto, as fantasias a ela
vinculadas e ao ato em si são fontes de culpa universais.
O
tabu da virgindade foi derrubado, é algo sem volta. As exceções ficam restritas
aos grupos religiosos ultraconservadores. Constata-se que o sexo entra mais
cedo na vida dos jovens.
Havendo
ou não penetração, o incesto é o maior tabu da humanidade. Poucas sociedades
admitem a relação intra-familiar, mesmo que os envolvidos não tenham laços
consanguíneos, caso de madrasta e enteado.
Millôr
Fernandes, certa vez, disse: “De todas as taras sexuais não existe nenhuma mais
estranha que a abstinência”. Um grande tabu é o de não admitirmos a vida sem
atividade sexual. Temos um discurso, reforçado pela mídia, que garante que o
sexo é essencial para a felicidade. Mas ele não é fundamental. Acredite, muitas
pessoas podem se realizar sem sexo.
*Jehmy
Katianne Walendorff é Historiadora formada pela Universidade Estadual do Oeste
do Paraná e Administradora formada pela FALURB, ambos os Campus de Marechal
Cândido Rondon – PR
*Thiago
de Almeida é Psicólogo, Mestre pelo Departamento de Psicologia Experimental do
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Professor do Instituto
Taquaritinguense de Ensino Superior.
Publicado na Revista Psique (Ciência e Vida) Ano VI nº 73 - Janeiro / 2012 (pág. 36).